terça-feira, 24 de novembro de 2009

Diário de bordo: melhores momentos.

A grande aventura, em linhas gerais, foi assim:

Voltei a morar no hotel, avec monsieur. Fomos pra Los Estados: Atlanta, Chicago, Pittsburgh, New York, Boston. Fui ao Brasil apertar a mão do Presidente enquanto ele me dava parabéns pela formatura, mas só meu pai tirou foto com ele. Monsieur ficou lá. Depois Monsieur veio, e a gente foi a Cuba. Nisso eu estava esperando esperando esperando a hora de trabalhar de verdade. Chegou a hora. Tapetes Contadores de Histórias, Grupo Urucungos, Mara Alcamim, Capoeira Zimba, Festa de Sete de Setembro, tudo-ao-mesmo-tempo-agora. Aniversário sozinho olhando lá embaixo desde a Pont Neuf. Vinte dias com Monsieur em Paris. Mudanças fortes dentro fora. Novos amigos nicaraguenses. Bienal, palestra de artistas brasileiros. Um puta rolo, seguido de uma puta clareza de coisas.

E agora estou lendo Freud de novo. Estou manso, mas com um lagarto vivo no estômago. Hoje vou almoçar saladinha.

domingo, 2 de agosto de 2009

Abacate

Acho choque cultural uma coisa fofa. Você tem lá a cultura dos outros, aí você não entende e dá umas gafes, todo mundo ri, você está perdoado por um crime que renderia morte se tivesse sido cometido por um local e pronto. Ou o outro tem aí a tua cultura, e estranha, faz uma cara com nariz torcido e fim.

Mas aos nicaraguenses que lêem este blog, eu queria informar que dizer pela décima nona vez que me encontra, como em todas as outras dezoito vezes, que abacate com leite é pavoroso, mata, dá diarréia, é comida de marciano, provoca vômito ou faz com que a máfia salvadorenha venha sequestrar a sua mãe, olha, dizer isso não é uma maneira de começar um papo. É chato. É irritante. E faz quem começa a conversa assim parecer um caipira fechado a qualquer coisa que não seja arroz com feijão, no caso nicaraguense misturado um com o outro e comido no café da manhã e chamado gallo pinto.

Brasileiro é esquisito, mas nicaraguense também é. O mundo é esqusito, independente das nacionalidades, credos, orientações sexuais e preferência por café com adoçante ou com açúcar. Quer ver?

Nicaraguense come arroz com feijão um misturado com o outro e os dois FRITOS no café da manhã, com mais mil acompanhamentos fritos.

Nicaraguense gosta de show que dura mais de 3 horas com as mesmas pessoas tocando um mesmo tipo de música.

Nicaraguense toma banho de mar com roupa e tudo.

Nicaraguense não fica sentado quieto dentro do cinema.

Tem mais um monte, mas eu não estou com vomtade de falar mal de nicaraguense. O desabafo todo é pra dizer o seguinte: peguem meio abacate, um copo de leite, duas colheres de sopa de açúcar e batam no liquidificador. Tomem. Se não gostarem, pshiu, não quero saber, brasileiro gosta de falsidade, mintam e digam que é ótimo. Se gostarem, buen provecho.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Fim de um reinado de paz, harmonia, prosperidade, democracia e homicídios premeditados.

Hoje eu desço do trono aqui no Principado da Quinta Los Pinos. O chefe volta. Foram quarenta dias de reinado cheios de amor, paz, prosperidade e candidatos a visto mortos pendurados no mastro da bandeira como forma de punição exemplar por exigir que eu venha assinar papel nos domingos.

No meu governo, eu enchi o Departamento Cultural de pedidos de dinheiro para nossa programação local; visitei três prefeituras que me pediram bolas e uniformes de futebol e que me garantiram que torcer contra o Brasil na Copa dá cadeia; fiz meia aula de capoeira; assinei visto que não acaba mais, entre eles para a Seleção de Futebol da Nicarágua, que foi treinar durante mais de mês no Rio de Janeiro; fui mil vezes fazer gestões por votos em organismos internacionais e fiquei amigo de metade dos funcionários da Direção-Geral correspondente no ministério local; participei de reuniões sobre: alimentação escolar, produção agrícola orgânica, combate à fome, prevenção de catástrofes, segurança pública e gestão de recursos hídricos; criei um currículo de Literaturas de Língua Inglesa para a Universidade onde dou aulas; criei um currículo de Linguística para um mestardo na mesma universidade; em parceria com a leitora brasileira, criei um curso de formação de professores de português para essa Universidade aí; distribuí paçoquinha e caipirinha; fui ver 5 filmes franceses, um colombiano, um equatoriano, um argentino e um chileno, representando a Embaixada em festivais de cinema; e mais algumas coisas.

Tirando os mortos e os feridos graves, todos os demais estão só com ferimentos leves e traumas psíquicos profundos. Eu sou um governante bondoso, de fazer inveja ao Pinochet.

E agora acabou, e eu posso, gazadeus, voltar pro parquinho.

domingo, 21 de junho de 2009

"O balão vai subindo, vai caindo a tempestade..."

Os brasileiros com saudades organizaram uma festa junina ontem, no Corcovado, único bar brasileiro de Manágua (até onde dá, né, considerando que já não se vende mais nada de produtos brasileiros nos supermercados, e que guaraná é mais raro que qualquer coisa aqui). As mulheres dividiram as tarefas de fazer comidinhas (o Carlos ia achar super binário), e prepararam curau, bolo de mandioca, caldo de frango com mandioca, cachorro quente, maçã do amor e umas coisas que eu nunca tinha visto na vida, pra você ver como é possível uma pessoa ser tão estrangeira em sua própria terra.

Aí estavam os funcionários da Embaixada e amigos brasileiros e nicas desses funcionários. E era engraçado ver como era fácil distinguir uns dos outros: brasileiros rindo, dançando e fazendo barulho, nicas com a cara-básica-de-nicaraguense número 1. Ou seja, cara de que não gosta de você. Todo mundo na estica e eu de bermuda. O cônsul lançando tendência...

Só não tinha muita música de festa junina. Estava rolando essas coisas modernas apagodadas, assambadas, aforrozadas, música que eu nem escutava no Brasil. Só que aqui não incomoda. É o que tem, e eu estou com saudades do Brasil, então tá bom.

Aí choveu. Muito. Bem na hora que eu, morto de sono (9:30PM), estava saindo pra voltar a pé pra casa. Apesar de aqui ser hemisfério norte, esta estação, a das chuvas, é chamada também de inverno. E chove horrores, uma chuva assim de balde que não serve pra esfriar o clima, pelo contrário, o calor fica de assar bode. Ou melhor, o calor fica de cozinhar bode ao vapor.

Por isso que a festa junina oficial foi extinta: ela dava prejuízo, todo mundo se esforçava para deixar a festa bonitinha e a chuva levava tudo. E como havia poucos brasileiros, a festa junina com os alunos do Centro Cultural era meio desanimadinha, com um monte de jovens usando a cara-de-nicaraguense número 1...

Só que foi legal, estimulou a memória de quermesses na Paróquia da Santa Teresa de Ávila. Numa delas, em 1985, eu perdi meu primeiro dente de leite, mordendo um espetinho de carne. Meu primeiro beijo também foi numa festa junina. E o frio que faz em Campinas nessa época combina mesmo com quentão (aqui foi um nica que estudou no Brasil que fez, e ele veio todo animado com o quentão dele que era, na verdade, vinho quente, mas eu não tive coragem de dizer...).

sábado, 20 de junho de 2009

Se eu não tivesse superego, eu diria...

(e o pior, é que às vezes ele falha, e coisas parecidas são ditas... só pra eu ficar arrependido & deprimido depois)


Bolsa de estudo pra quem chega de carro na escola? Claro que tem, meu bem. Mas é só pra gente bonita. Vaza.

Que é isso, menino, precisa de projeto de pesquisa pra fazer mestrado não! Cê acreditou na regra que tá aí, bobo? Ó: pode entregar só o xerox da tua carteira de identidade, viu? O sorteio da vaga é pela Loteria Federal, teu número de rg já tá concorrendo!

Eu até podia dar o visto pra você agora mesmo, já que você tem que estar no aeroporto daqui a 20 minutos e ainda nem preencheu o formulário. Pena que eu não fui com a tua cara.

Se as aulas de português são em português? Não, não. São em esloveno. A gente gosta de metodologias alternativas aqui.

Cê acha três anos muito? E que língua você aprendeu em um ano nessa vida? Porra, nem espanhol você sabe falar direito!! Senta aí quietinho e vai estudando que em 2034 a gente te dá o certificado.

Convite pra festa da independência? Pra quê que eu vou te dar um convite?? E eu lá quero estragar a minha festa???

Tua cidade tem 20 times de fultebol e 2.500 habitantes? Tem certeza que o futebol que vocês jogam é um com bola, gol, essas coisas?

Eu não te convidei pra exposição? Oh, desculpe. Mas é que você não ia entender nada, mesmo. E, ó, nem teve comida, viu? Você não ia gostar...

Passagens aéreas grátis pra ir pro Rio de Janeiro? SONHA, Alice.

Ah, por que é que eu não fui na tua exposição? Porque só tinha merda exposta, eu não ia perder meu tempo, né?

Ah, você quer mulata sambando? Então faz aí uma revolução comunista que eu quero ver.


E olha, pessoal, esse meu trabalho não tem NADA a ver com glamour, ok? Não insistam, não me façam ser grosseiro...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Malvadezas

1
Uma representação diplomática daqui está indo embora porque o país que representa virou fumaça e afundou de volta pra Dorsal Atlântica. O que é que eu pensei primeiro? "Bem feito".

2
Mas estou começando a concordar com as suecas quando elas não deixam abrir a porta pra elas. Pelo menos pro caso de uma velha que ficou lhando na minha cara esperando que eu, que na verdade estava distraído, não politizado, o fizesse. Quer cavalheirismo? Quer que eu abra a porta? Então lave minhas cuecas. Mostre um pouco de damismo.

Pena que eu vou estar morto quando o mundo for moderno de verdade.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

En el gimnasio

Fiz 30, e resolvi dar um trato na lataria, criando o Programa Panza Cero. Isso foi em setembro. Como em todo programa qualquer coisa Cero ou Zero, as coisas caminham devagar. Comecei a fazer ginástica há 4 meses. Teve de ser na academia mesmo, aqui é meio fraco de espaços exteriores para esportes bacanas. Na verdade, tem muita trilha pra fazer, eu até vou bastante a elas, mas, quem me dera não trabalhar pra passar a vida fazendo isso!


Academia aqui é mais enquadrada no lugar dela: chama Gimnasio, ou seja, ainda não terminou o primeiro grau. Não dá mestrado, que nem a Cia Athletica no Brasil. E essa uma a que vou é a segunda mais fodástica da cidade, e custa US$ 40,00 por mês.


Aí que estou malhando. Escolhi pra instrutor um que tivesse perna grossa. Só tinha um mesmo, o resto é Johnny Bravo. Não quero ficar assim. Ate aí, malhar no meio de Johnny Bravos, as máquinas de tortura, música péssima, isso tudo é a mesma coisa, nada de especial sobre malhar na Nicarágua. Mas tem outras coisas.


A tecnologia de revezamento nas máquinas não é completamente dominada por aqui. Alguém vem e diz "alternamos"? E isso significa: "vou tomar de você, tá? não reclama , não". E o pessoal todo adora fazer exercício em 5, 6, 7 máquinas ao mesmo tempo, deixando em cada uma o celular, a garrafa de bebida, a toalha, a dentadura. E reclama se você tira. Eu tenho uma teoria pra explicar isso. É que a densidade demográfica da Nicarágua é de 39/km2. Eles não sabem lidar com superpopulação.

A música ambiente é salsa e reggaeton. Say no more. Sem iPod não dá.

Você está lá malhando suando quase morrendo e respirando em dobro, aí passa a faxineira com o lampazo (esses esfregões de mecha de pano, apelidados pela Letícia de oompa loompas) e limpa o chão pertinho de onde você está, e todo o fabuloso, que é o pinho sol deles, vai parar nos mais escuros alvéolos. A gente também senta no vidrex, porque a limpeza dos assentos é obsessiva. Ainda bem que vidrex cura tudo.

O bom é que, embora haja Johnny Bravos, os nicaraguenses não me parecem muito obcecados com ginástica e essas coisas. O clima é mais leve que na Real Academia de Alta Malhação Master 24h, muito mais leve. Deu até pra perder 15 kg já...