Os brasileiros com saudades organizaram uma festa junina ontem, no Corcovado, único bar brasileiro de Manágua (até onde dá, né, considerando que já não se vende mais nada de produtos brasileiros nos supermercados, e que guaraná é mais raro que qualquer coisa aqui). As mulheres dividiram as tarefas de fazer comidinhas (o Carlos ia achar super binário), e prepararam curau, bolo de mandioca, caldo de frango com mandioca, cachorro quente, maçã do amor e umas coisas que eu nunca tinha visto na vida, pra você ver como é possível uma pessoa ser tão estrangeira em sua própria terra.
Aí estavam os funcionários da Embaixada e amigos brasileiros e nicas desses funcionários. E era engraçado ver como era fácil distinguir uns dos outros: brasileiros rindo, dançando e fazendo barulho, nicas com a cara-básica-de-nicaraguense número 1. Ou seja, cara de que não gosta de você. Todo mundo na estica e eu de bermuda. O cônsul lançando tendência...
Só não tinha muita música de festa junina. Estava rolando essas coisas modernas apagodadas, assambadas, aforrozadas, música que eu nem escutava no Brasil. Só que aqui não incomoda. É o que tem, e eu estou com saudades do Brasil, então tá bom.
Aí choveu. Muito. Bem na hora que eu, morto de sono (9:30PM), estava saindo pra voltar a pé pra casa. Apesar de aqui ser hemisfério norte, esta estação, a das chuvas, é chamada também de inverno. E chove horrores, uma chuva assim de balde que não serve pra esfriar o clima, pelo contrário, o calor fica de assar bode. Ou melhor, o calor fica de cozinhar bode ao vapor.
Por isso que a festa junina oficial foi extinta: ela dava prejuízo, todo mundo se esforçava para deixar a festa bonitinha e a chuva levava tudo. E como havia poucos brasileiros, a festa junina com os alunos do Centro Cultural era meio desanimadinha, com um monte de jovens usando a cara-de-nicaraguense número 1...
Só que foi legal, estimulou a memória de quermesses na Paróquia da Santa Teresa de Ávila. Numa delas, em 1985, eu perdi meu primeiro dente de leite, mordendo um espetinho de carne. Meu primeiro beijo também foi numa festa junina. E o frio que faz em Campinas nessa época combina mesmo com quentão (aqui foi um nica que estudou no Brasil que fez, e ele veio todo animado com o quentão dele que era, na verdade, vinho quente, mas eu não tive coragem de dizer...).